sexta-feira, 4 de maio de 2012

gillettes e a proibição de cortar pros dois lados


a necessidade de se pensar no B


eu fico pensando, cá com minhas estrias, por que causa, motivo, razão ou circunstância é proibido cortar pros dois lados. já passei por isso, baby, e, numa boa, você está apenas indecisa. mas é pra eu me decidir entre o que mesmo? entre homens e mulheres?

já ouvi de tudo, do clássico você está indecisa ao absurdamente louco homossexualismo é doença, então eu procuro entender, mas bissexualismo é safadeza. mas por que? por queeeeeeee?! todo esse discurso bissexual-fóbico (acabei de inventar esse termo, né? neologismo é vida!) só mostra o quanto estamos acostumados a definir as pessoas (as outras pessoas e a nós mesm@s) dentro do binômio homem/mulher.

além de indecisão e safadeza, [e eu não vou nem me deter a falar da desrespeitosa tara masculina com as mulheres bissexuais, que é pra não piorar a gastrite] a bissexualidade também é encarada como falta de critério. ah, então quer dizer que você pega tudo que tiver pela frente? não, meu bem, eu não "pegaria" você por exemplo! RÁ! mas falando sério, esse medo da "falta de critério" para escolha de parceiros sexuais/afetivos, além de mostrar como nós somos reduzid@s ao papel de homem ou de mulher (sim, porque não podemos desejar alguém pelas semelhanças que tenhamos, pela admiração que a pessoa nos provoque, ou por quaisquer outros motivos sem levar em consideração a genitália que ela tem), demonstra o medo que a sociedade tem de que vivamos nossas sexualidades livremente. e se eu não quiser ter critério algum? e se meu único critério for que a querência seja recíproca?  e?! o corpo é de quem mesmo? ah, tá, obrigada. pensei que fosse seu. [aliás, já repararam no quanto não-óbvia é a frase 'o corpo é meu'?]

prosseguindo. eu vim aqui escrever que, assim como renato russo, eu gosto de meninos e menina-a-as. e dizer que as pessoas precisam entender (porque se elas não entenderem, talvez isso lhes provoque uma úlcera, mas não afetará minha liberdade) que vai ver que é assim mesmo e vai ser assim pra sempre. vim dizer que a bissexualidade pra mim é algo tão natural quanto as estrias na minha barriga, que já foram um tabu pra mim, mas agora é só pr@s outr@s. que eu não consigo amar ou desamar, querer ou não querer, desejar ou não desejar alguém me pautando apenas na genitália da pessoa - não que as genitálias em si sejam critério universal, mas que para mim são quase que as únicas diferenças entre homens e mulheres, desconsiderando a questão histórica que se impõe sobre corpos femininos e masculinos. que eu sou uma apaixonada por pessoas. que meus critérios são outros. tive um grande amor que tinha um pênis e me apaixonei perdidamente por alguém que tinha uma vagina - e fui feliz! e quero ter muitos outros amores - homens ou mulheres, ou qualquer coisa no meio do caminho.

aliás, eu queria dizer que eu tô no meio do caminho. eu me recuso a caber na caixa MULHER. se eu me identifico como mulher, é porque a sociedade impôs isso a mim em algum momento - no momento em que o médico virou pra minha mãe e disse "tá vendo aqui? essa falta de protuberância no meio das pernas? parabéns, é uma menina!", "é uma menina, gente. vou pintar o quarto de rosa!" [mentira, porque ela já disse que meu nome era victor antes dessa trágica descoberta, e que tod@s esperavam que eu fosse um menino, então ela provavelmente pensou "que merda, é uma menina de novo"]. e se eu me assumo como mulher é somente para me livrar das amarradas que a sociedade me impôs pelo simples fato d'eu ter nascido como uma vagina.

não, 'homem' e 'mulher' são dois conceitos que não me contemplam, ou pelo menos não são levados em consideração por mim quando me vejo desejando alguém. aliás, eu gosto mesmo é do que está no meio, entre homem e mulher. os extremos são chatos e quase sempre tão forçados. aliás, o termo bissexualidade, como ideia de gostar de homens e mulheres, também não me contempla. bissexualidade pra mim é a própria superação dessa dicotomia. ah!, mas nem sempre foi assim, porque eu era do tipo que falava: mas eu gosto de homem com cara de homem, e mulher com cara de mulher. hoje isso me faz questionar até que ponto nossa sexualidade, mesmo na comunidade lgbt, é um exercício das nossas liberdades e a partir de que momento elas estão submetidas ao padrão heteronormativo. mas isso é discussão pra mais de uma postagem, pra mais de um tcc.

enfim, não tô aqui fazendo uma apologia à bissexualidade. o amor que você vive entre quatro paredes, seja ele qual for, eu espero que você viva na rua, no cartório, na tevê, conforme sua liberdade lhe cobre. apesar de eu nunca ter sido homossexual (e olha que eu já passei pelo processo de me afirmar enquanto homossexual, mas isso sim foi só um momento de indecisão), eu acredito na hetero e na homossexualidade. o fato d'elas não existirem na minha vida não me impede de olhar com profundidade as vivências de outras pessoas e, acima de tudo, respeitar essas vivências.

então, gente, é isso. bissexualidade não é uma lenda urbana e dizer pr@ seu/sua amig@ que el@ está indecis@ pode magoar bastante também. se seu amigo que adora ser passiva quiser uma mulher, nada de comentários do tipo "mulher? ui, que nojo!". e se a sua amiga supercaminhoneira estiver de olho num gatinho, nada de falar que tá estranhando ela, beleza? e você, que jurava que seu/sua amig@ era hetero mas agora el@ está com alguém que tenha uma genitália parecida com a del@, muita calma nessa hora porque, ainda que seja uma fase, é o momento del@ viver essa fase com toda a plenitude. por que que a gente tem ficar se metendo na vida sexual/afetiva d@s outr@s desse jeito mesmo?! E NADA DE PERGUNTAR, SEM A MENOR CERIMÔNIA, SE A SUA AMIGA BISSEXUAL QUER FAZER UM MÉNAGE CONTIGO E COM A NAMORADA DELA, OK?!?!

tem um B no meio de LGBT, e, acreditem, não é à toa. permitamos, então, que a bissexualidade, seja reflexo da diversidade sexual/afetiva pela qual lutamos.

beijocas para as mulheres, para os homens e para tod@s @s que não se sentem contemplados por esses conceitos :*